Texto: Guilherme Henri
“Na minha trajetória na Defensoria Pública de MS posso relatar uma situação emblemática em que uma estudante negra do curso de Direito confidenciou que depois que conheceu uma defensora pública preta ela passou a vislumbrar uma real possibilidade de um dia galgar um cargo no sistema de Justiça, tão embranquecido”.
O pequeno recorte de memória e ao mesmo tempo tão significativo é da defensora pública, Maria Clara de Moraes Porfírio, titular da comarca de Miranda, mas antes de mais nada, mulher preta (retinta).
Conforme a defensora, a proximidade do Dia 20 de novembro - Dia da Consciência Negra, dia da morte de Zumbi dos Palmares, símbolo de resistência -, aumenta a importância em reforçar a representatividade de uma mulher ou homem negro que exerce um cargo público em um sistema predominantemente branco.
“Antes de me encontrar, uma Defensora Pública negra, essa estudante imaginava que seria um sonho impossível. Assim, o Dia da Consciência Negra deve servir como reflexão séria e responsável acerca do nosso papel na sociedade, o reconhecimento de que o racismo está muito presente e que devemos ser resistência. Não podemos esquecer que maioria das pessoas assistidas pela instituição é negra ou parda e ter uma defensora ou defensor público que possa realizar o atendimento e defesa dos seus direitos, cujo perfil tenha proximidade com a realidade de cada um, sem sombra de dúvidas é motivo de empatia, confiança, respeito, acolhimento, dentre outros sentimentos”, destaca a defensora.
Ainda sobre a data e seus significados, a defensora finaliza reafirmando a famosa frase de Ângela Davis ao dizer que “quando a mulher negra se movimenta, toda estrutura da sociedade se movimenta com ela”.