Médico infectologista e professor de Medicina da UFMS, Julio Croda, descreve a situação atual de Campo Grande indicando também o Lockdown

Julio Croda

Situação de Campo Grande

A indicação de medidas restritivas de contato como o lockdown é feita em qualquer região quando se atinge 80% na taxa de ocupação geral do leitos de terapia intensiva. É uma medida preventiva para que pacientes tenham acesso adequado à assistência médica. Em um cenário como estamos, tais medidas restritivas são propostas para diminuir a mobilidade e o contato entre as pessoas. O que foi proposta por Campo Grande, através do Decreto 14380 de 14/07/2020 (https://bit.ly/Decreto14380), em nenhum momento é uma medida restritiva pois diversas atividades não essenciais foram mantidas, inclusive nos fins de semana.

Durante a semana nenhuma medida restritiva foi proposta. Portanto, fica claro que esse decreto não teria impacto.

Um artigo recente que avaliou essas medidas no Reino Unido mostra uma redução de 74% nos contatos, reduzindo a taxa de contágio de 2.6 para 0.62 (https://bit.ly/lockdownreinounido).

Essa medida é efetiva para reduzir os números de casos e óbitos. Já é fato que grande parte de transmissão ocorre durante a utilização do transporte público e não efetivamente no ambiente do trabalho.

Estudo da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP mostra que os bairros mais afetados são os bairros que a maioria dos trabalhadores utilizam o transporte público (https://bit.ly/transporteCOVID).

Portanto, o fechamento das atividades não essenciais não é proposta para evitar transmissão apenas no ambiente do trabalho, mas principalmente durante o deslocamento das pessoas.

Os usuários que utilizam restaurante, um bar, um comércio podem optar por não ir a esses estabelecimentos, entretanto, o trabalhador desses serviços, no momento que as atividades não essenciais são abertas, não tem essa opção. Dados epidemiológicos mostram que esse grupo forma a maioria das pessoas que adquirir a doença e, eventualmente, necessita de um leito de UTI e evoluem para o óbito.

Julio Croda, médico infectologista da FIOCRUZ e professor de Medicina da UFMS

Defensoria Pública-Geral do Estado de Mato Grosso do Sul

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