Há 49 anos, uma revolta de LGBTs contra as sucessivas opressões policiais no bar Stonewall Inn em Nova York mudou o curso da história para lésbicas, gays, bissexuais e pessoas trans. Cansados de serem detidos pela justificativa de “conduta imoral”, uma multidão começou a se aglomerar ao redor do bar para impedir o deslocamento dos detidos. Os ânimos se acirraram até o embate corporal entre polícia e comunidade LGBT.
O confronto foi dispersado no fim da madrugada com a chegada da política tática de Nova York e a prisão de mais de 10 pessoas, mas foi o estopim para outros protestos na cidade nas noites seguintes. No terceiro dia, mais de mil pessoas foram às ruas.
No dia 28 de junho de 1970, exatamente um ano após a revolta de Stonewall, aconteceu a primeira parada do orgulho LGBT, nos Estados Unidos.
Quase 50 anos depois, muitas coisas mudaram, mas muitas ainda seguem iguais ou piores. A violência contra LGBTs no Brasil, por exemplo, aumentou significativamente de 2016 para 2017.
Os últimos dados do Grupo Gay da Bahia (GGB), maior organização de coleta de informações sobre a violência LGBT no país, apontam um aumento de 30% nos homicídios e suicídios de lésbicas, gays, bissexuais e pessoas trans. No ano passado foram 445 mortes frente a 343 em 2016.
Os números alarmantes colocam o Brasil na vergonhosa posição de país que mais mata pessoas LGBTs no mundo. Segundo agências internacionais de direitos humanos, há mais assassinatos contra a minoria no Brasil do que nos 13 países do Oriente e África onde há pena de morte contra os LGBTs.
No ano passado, das 445 vítimas de homotransfobia, 194 eram gays (43,6%), 191 trans (42,9%), 43 lésbicas (9,7%), 5 bissexuais (1,1%) e 12 heterossexuais (2,7%). De acordo com a organização, as vítimas heterossexuais foram incluídas no relatório pelo envolvimento com o universo LGBT, seja por tentarem defender algum gay ou lésbica quando ameaçados de morte ou por estarem em espaços predominantemente gays.
Em muitas vezes o crime foi executado por familiares ou conhecidos. Diversas vezes o assassino executou no mesmo ato um casal de gays ou de lésbicas: no caso das homossexuais femininas, tais crimes foram perpetrados em sua maioria por ex-companheiros ou familiares inconformados com a união homoafetiva.
Um ponto preocupante no relatório é o aumento de 6% nas mortes de pessoas trans, pois enquanto os homossexuais representam por volta de 20 milhões de habitantes, estima-se que travestis e transexuais não devem ultrapassar 1 milhão de pessoas, o que significa que o risco de uma pessoa trans morrer vítima da homotransfobia é 22 vezes maior.
De acordo com o Relatório Mundial da Transgender Europe, de um total de 325 assassinatos de transgêneros registrados em 71 países entre 2016 e 2017, mais da metade (52%) ocorreram no Brasil (171), seguido do México (56) e dos Estados Unidos (25).
Desde o relatório de 2016, além dos homicídios, são incluídos também os suicídios de LGBT no rol das mortes causadas pela homotransfobia. Segundo a Instituição “jovens rejeitados por sua família por serem LGBT têm 8,4 vezes mais chances de tentarem suicídio” e “lésbicas, gays e bissexuais adolescentes têm até cinco vezes mais chances de se matarem do que seus colegas heterossexuais”.
Em 2017, além dos 387 homicídios de LGBTs, foram registrados 58 suicídios no Brasil, sendo 33 gays, 15 lésbicas, 7 trans e 3 bissexuais. Sete estavam na faixa etária de 14 a 19 anos, 13 entre 20 a 29 anos e 6, de 30 a 36 anos. Alguns deixaram cartas denunciando o sofrimento motivado pela sua homotransexualidade, outros gravaram vídeos nas redes sociais anunciando sua morte.